segunda-feira, 19 de abril de 2010

A ALMA DO POETA

A contemplação é uma das mais belas atividades da alma. É ato que envolve o perceber e o sentir, o ver e o suspirar, o ponderar e o extasiar-se. No contemplar encontra-se o nascedouro do discurso do poeta, este ser que absorve a força estética das formas, dos sons, dos cheiros e dos movimentos com a mesma intensidade com que os infantes lábios sugam o tépido líquido da vida; que sintetiza, em si mesmo, a multidão dos sentimentos dispersos de uma humanidade cada vez menos humana, cada vez mais coisificada; que derrama a sua alma nas palavras que emergem do seu enternecido coração e que “catarseiam” os fatos evocados.

Este ser (o poeta) transita pelas vias do sentimento, percorre os caminhos da emoção, e assim fazendo recolhe os fragmentos da realidade, para recontar a mesma realidade com a profundidade que olhos apressados jamais perceberiam.

É diferente o olhar do poeta: é penetrante; é perspicaz; é cortante. Seu olhar reúne, no mesmo ato, todos os sentidos, os quais, como pincéis de diferentes larguras, e como tintas de cores diversas, às vezes leves a alegres, às vezes densas e dramáticas, imprimem em sua alma os mais significativos quadros da vida. O poeta é um artista das imagens interiores. Seus pincéis? As palavras; suas tintas? Os sentimentos; suas telas? Nossas almas. Seus “quadros” reproduzem texturas, formas e cores que não podem ser vistas pelos olhos naturais; os olhos que evocam são os do coração. Por isso, quem se acostumou a viver na superfície da realidade não compreende o poeta.

Por que falas tanto de amor, ó poeta? Por que celebras tanto a beleza? Por que, como um explorador de terras selvagens, penetras no interior dos homens, para descobrir-lhes as razões encobertas e trazeres à luz o que está por trás das ações? Porventura, não é para compensares a tamanha falta de sentimentos dos de tua geração? Porventura, não é para servires de ponto de equilíbrio num mundo tão “frio”, tão apático?

0 comentários:

Postar um comentário